A megaoperação no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, recolocou a segurança pública no centro do debate nacional. O episódio expôs, mais uma vez, a fragilidade das políticas que oscilam entre o endurecimento penal e a ausência de estratégias sociais consistentes.
O crime organizado, antes restrito às grandes metrópoles, já estende seus tentáculos a cidades médias e pequenas — controlando o tráfico de drogas, o desmanche de veículos, o contrabando e a lavagem de dinheiro.
No campo político, o tema é tratado com oportunismo. As narrativas são moldadas por interesses eleitorais, sem compromisso com a garantia da segurança à população. O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), cobrou apoio federal na chamada Operação Contenção, mas se opôs à PEC da Segurança Pública, proposta que busca integrar os entes federativos e ampliar a participação da União no combate ao crime. Hoje, essa responsabilidade recai quase exclusivamente sobre os Estados.
A extrema-direita defende que facções criminosas sejam classificadas como organizações terroristas, o que colocaria o Brasil sob a órbita da legislação antiterrorismo dos Estados Unidos. A proposta é controversa: o terrorismo se define pela motivação política, enquanto o crime organizado tem fins estritamente econômicos.
Essa iniciativa levanta outra preocupação, pois a legislação americana autoriza sanções e ações diretas contra grupos rotulados como terroristas — o que, em tese, poderia abrir brechas para intervenções externas em território brasileiro.
O quadro ganha contornos ainda mais sombrios quando parte da população comemora o saldo mortal da operação policial. Em nome da ordem, muitos celebram a morte — ignorando um princípio elementar da fé cristã: não se glorifica a morte, mas a vida.
No front político, o embate é intenso. De um lado, os defensores da linha dura, que veem na força a solução imediata. Do outro, os que defendem ações de inteligência e políticas públicas capazes de romper o ciclo da violência.
Enquanto o discurso se radicaliza, o crime se reinventa. O domínio territorial das facções já garante lucros com a cobrança de “taxas” por serviços como internet e gás, muitas vezes mais rentáveis que o próprio tráfico.
Em resposta ao avanço das facções, o Congresso articula uma CPI do Crime Organizado para investigar o financiamento e a expansão dessas redes. O movimento vem acompanhado do clamor popular por penas mais severas — embora nem sempre mais eficazes.
Há, contudo, vozes que pedem outro caminho: reocupar os territórios dominados, reintegrar suas populações e restabelecer o poder público, combatendo milícias e organizações criminosas com presença do Estado, não apenas com fuzis.
É preciso deixar o discurso político oportunista, ficar sem soluções pontuais fáceis de implementar e enfrentar com rigidez o crime organizado, prendendo e julgando os envolvidos, asfixiando sua estrutura financeira e social. Tudo isto só é possível com esforço conjunto de todas as forças de segurança do país, a partir de planejamento e execução minuciosa.
