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Foto: Lula Marques/Agência Brasil (https://www.fotospublicas.com/acervo/politica/comissao-de-infraestrutura-(ci)-do-senado-durante-audiencia-para-ouvir-a-ministra-do-meio-ambiente-e-mudanca-do-clima-marina-silva)

Marina Silva e o machismo estrutural no poder

A presença da ministra Marina Silva na Comissão de Infraestrutura do Senado, no dia 27.05, escancarou a persistência do machismo estrutural que tenta reduzir e silenciar mulheres que ocupam espaços de autoridade. O que se viu não foi apenas uma divergência técnica sobre políticas ambientais, mas um embate direto entre um modelo arcaico de poder masculino e a afirmação de um novo protagonismo feminino — consciente, autônomo, combativo e inegociável.

Quando o senador Plínio Valério (PSDB-AM) declarou: “A mulher merece respeito, a ministra não”, ele não apenas atacou Marina Silva. Ele explicitou, sem rodeios, uma lógica patriarcal que ainda condiciona o respeito à mulher ao cumprimento de um papel submisso, dócil e decorativo. Marina, com sua trajetória de décadas de serviço público, reconhecimento internacional e profundo conhecimento técnico, rompe essa expectativa. E é exatamente por isso que ela incomoda tanto: porque exerce o poder sem pedir licença.

Ao se retirar da audiência após exigir — e não receber — um pedido de desculpas, Marina não “fugiu do embate”. Ela fez um gesto político de altíssima densidade simbólica. Recusou-se a normalizar o desrespeito. Rejeitou o lugar da mulher que “aguenta tudo calada”. Disse, com sua atitude, que autoridade feminina não será mais tolerante com insultos travestidos de opinião.

As agressões verbais se repetiram. O senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da Comissão, disse que a ministra deveria “se pôr no seu lugar” — como se o lugar da mulher no poder devesse ser delimitado e vigiado.

Mas afinal, que lugar é esse que ainda tentam impor às mulheres? Por séculos, o patriarcado definiu esse espaço: o da passividade, da invisibilidade, da obediência. No entanto, as mulheres já estão ocupando todos os setores da sociedade: são médicas, engenheiras, juízas, empresárias, cientistas, escritoras, líderes comunitárias e, sim, ministras de Estado. Em muitas profissões, já são maioria. Na política, porém, ainda enfrentam uma barreira estrutural que exige delas, além de competência, resistência contínua a insultos, deslegitimações e ataques — muitas vezes, simplesmente por existirem em espaços historicamente masculinos.

O incômodo diante das mulheres que não se dobram não é novo. Mas o que se fortalece hoje é uma nova consciência feminina, que recusa com firmeza qualquer tutela, interrupção, silenciamento ou deslegitimação. Quando uma mulher fala com firmeza, dizem que é “arrogante”. Quando exige respeito, é “intransigente”. Quando impõe limites, é “difícil”. Mas os homens que agem da mesma forma são vistos como “líderes firmes”, “estrategistas” ou “homens de pulso”.

O ataque a Marina Silva não é um caso isolado. É parte de um padrão — um ciclo de violência política de gênero que se alimenta da tentativa de constranger, desautorizar e intimidar. Um padrão que flerta com a brutalidade, como se viu há apenas um mês, quando o mesmo senador Plínio Valério declarou que gostaria de “enforcar” a ministra. Isso ultrapassa o debate democrático e entra no campo da violência simbólica e verbal — formas sofisticadas de exclusão.

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