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Foto: Ryoji Iwata (https://unsplash.com/pt-br/fotografias/vista-aerea-de-pessoas-caminhando-em-raod-IBaVuZsJJTo)

Crimes crescem com o silêncio e a omissão

A sociedade contemporânea vive um paradoxo inquietante. De um lado, busca a justiça, a paz e o respeito às diferenças; de outro, convive cotidianamente com a violência, a intolerância e a corrupção. Essa coexistência de forças antagônicas revela a complexidade — e também as fragilidades — de uma sociedade.

Mas é preciso cuidado: o que é comum não deve ser confundido com o que é normal. Quando a injustiça passa a ser vista como rotina, o perigo maior se instala. Normalizar o erro, tolerar a violência e silenciar diante da opressão são caminhos que conduzem, lentamente, à corrosão moral e institucional e também a decadência dos valores da sociedade.

A luta contra o mal coletivo — seja ele uma agressão física, uma injustiça social ou um desvio ético — é um dever compartilhado. Engana-se quem acredita que apenas o Estado, os tribunais ou a polícia têm a responsabilidade de agir. Cada cidadão carrega consigo o poder — e o dever moral — de não se calar. O silêncio diante da dor do outro, é também uma forma de violência.

Ao fechar os olhos para o que é errado, abrimos espaço para a impunidade. Quando autoridades se omitem por conveniência, cometem crime. Quando cidadãos preferem a indiferença, reforçam a cultura do medo. E quando a sociedade inteira silencia, a injustiça se institucionaliza.

Omissões têm consequências concretas. Servidores públicos que ignoram irregularidades cometem prevaricação; médicos que se negam a socorrer, omissão de socorro; cidadãos que presenciam agressões e nada fazem tornam-se cúmplices morais. A lei pode punir alguns desses casos, mas a consciência é uma instância silenciosa que cobra de todos.

O dever de agir não é apenas jurídico; é ético e civilizatório. Não se trata de heroísmo, mas de humanidade. Quando um vizinho grita por socorro, é dever de todos chamar a polícia. Quando um acidente acontece, é obrigação parar e ajudar. Quando um crime é cometido, é prudente registrar, denunciar, informar as autoridades. O cidadão ativo, vigilante e solidário é o alicerce de qualquer nação viva e exerce papel ativo para a construção de vida em sociedade mais justa e solidária.

Hoje, o silêncio ganha novas formas. As redes sociais criaram um falso senso de engajamento: muitos “curtem” causas, mas poucos agem de fato. A indignação digital não substitui o compromisso real. A omissão moderna, revestida de cliques e hashtags, é tão perigosa quanto o silêncio antigo — talvez mais, pois disfarça a inércia sob o véu da aparência moral.

Em tempos de desinformação e polarização, a coragem de falar, denunciar e agir tornou-se um ato político e humano. O maior crime, agora, é o que se comete e também o que se permite acontecer.

Denunciar, agir e se posicionar não são gestos de revolta, mas de preservação da própria humanidade. O silêncio, ao contrário, é o solo fértil onde germinam a covardia e a injustiça.

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