No momento, você está visualizando Especismo e a senciência: uma nova forma de analisar as nossas escolhas
Foto: Karsten Wurth (https://unsplash.com/pt-br/fotografias/gado-marrom-no-meio-da-floresta-drdj51vHFkg)

Especismo e a senciência: uma nova forma de analisar as nossas escolhas

Em um mundo que celebra avanços em direitos humanos e igualdade, uma forma de discriminação permanece amplamente ignorada: o especismo. O termo, cunhado pelo filósofo australiano Peter Singer em Ética Prática (4ª edição, Martins Fontes, 2018), se baseia na crença de que a espécie humana ocupa uma posição superior no reino animal, justificando o uso de outras espécies como recursos. Essa discriminação perpetua a ideia de que o sofrimento de um ser vivo pode ser desconsiderado simplesmente por ele pertencer a uma espécie diferente. Singer desafia essa visão ao propor que a senciência — a capacidade de sentir dor e prazer — seja o critério moral para determinar como tratamos outros seres.

O conceito foi introduzido há mais de quatro décadas e permanece atual, pois continuamos a explorar os animais em uma escala cada vez maior, ignorando alternativas viáveis.

O especismo está profundamente enraizado em diversos aspectos da sociedade moderna. Na indústria alimentícia, milhões de animais vivem confinados em condições cruéis e impróprias, apesar do avanço de alternativas como carnes vegetais e leites não lácteos.

Na ciência, apesar do desenvolvimento de tecnologias como pele artificial e modelos computacionais, milhões de animais ainda são utilizados em testes dolorosos. Essa prática é defendida como essencial para o avanço científico, embora tenhamos outras alternativas livres de animais.

O especismo também está presente no entretenimento. Os circos com animais selvagens são proibidos em muitos países, mas práticas como touradas e zoológicos permanecem.

Além disso, a expansão urbana e o desmatamento destroem habitats inteiros e causam a extinção de espécies. Essa negligência reflete a visão de que a natureza existe apenas para servir aos interesses humanos, ignorando as consequências irreversíveis dessas ações, como a perda de biodiversidade.

Peter Singer sugere uma ética baseada no princípio da igualdade, na qual interesses semelhantes recebem igual consideração, independentemente da espécie a que pertencem.

A adoção de práticas alimentares como o veganismo ou vegetarianismo é uma das formas mais eficazes de reduzir o impacto do especismo. Além de aliviar o sofrimento de bilhões de animais, essas escolhas têm o potencial de mitigar problemas ambientais, como o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa.

Singer também propõe uma revisão na forma como conduzimos pesquisas científicas. Investir em tecnologias que substituam os testes em animais não apenas promove maior precisão nos resultados, mas também reforça um compromisso ético com todas as formas de vida.

A mensagem de Peter Singer é clara. Nos leva a refletir sobre o nosso padrão de consumo e nossos costumes, mas principalmente mostra um outro lado de nosso padrão alimentar. Desta forma, o enfoque apresentado nos faz adotar ações, mais efetivas, para respeitar todos os seres vivos e reconhecer que todos os animais têm direito de viver com dignidade e com respeito.

Este post tem um comentário

  1. Mario Borges Lemos

    Euler, bom dia!

    Excelente texto. Muito bem escrito.
    Claro.
    Objetivo.

    Temos que repensar nossas atitudes.

    Quem somos nós para nos considerarmos uma espécie superior.

    E esse tipo de pensamento acontece dentro da nossa própria espécie. Quem somos nós para achar normal que “um nasce pra sofrer enquanto o outro ri”, como cantava o Tim Maia na música Azul da Cor do Mar.

    Forte abraço.

Deixe um comentário