A ciência econômica é uma ciência social e tem o objetivo de alocar os recursos finitos para alcançar o melhor bem estar.
A nossa taxa de juros de 13,75% é a mais alta do mundo.
O quanto a sociedade está disposta a pagar custos financeiros altos? Eles estão no nosso dia a dia. Nas transações eletrônicas (débito e crédito), nas antecipações de créditos, nos crediários e financiamentos, etc. Estes custos oneram o setor produtivo, geram lucros bilionários para o setor financeiro e os juros altos agravam a situação de setores dependentes do crédito.
Pessoas consomem alimentos, roupas, energia, eletroeletrônicos, etc. e os juros não são um item essencial direto, mas são a matéria-prima principal do crédito.
A mídia destaca a reação no mercado financeiro a medidas econômicas, como as oscilações da cotação do dólar e dos índices da bolsa de valores. Entretanto, devemos ficar atentos aos reflexos nos demais setores da economia (indústria, comércio, serviços), como a diminuição ou aumento do número de recuperação judicial, falência, desemprego, fechamento de empresas, etc.
Em 2019, o economista André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real, escreveu o artigo “André Lara Resende escreve sobre a crise macroeconômica”, publicado no Jornal Valor Econômico, com propostas heterodoxas para combater a inflação e gerar o crescimento econômico. Propôs reformas para estimular o investimento e a produtividade, simplificação do fisco, taxa de juros abaixo da taxa nominal de crescimento da renda, abertura comercial com transição de 5 anos. Recentemente, no dia 13.02, em entrevista no Canal Livre, da Band, afirmou que a atual taxa Selic em 13,75% desaquece a economia, gera recessão e não combate a inflação. Além disso, ela não faz o Banco Central (BC) atingir os seus objetivos (controlar a inflação, suavizar flutuações do nível atividade econômica, pleno emprego): “Obviamente que essa taxa de juros de 13,75%, 8% real, é incompatível com esses objetivos. Ela está errada.”
O artigo 1०, da Lei Complementar n० 179, de 2021, prevê ser objetivo do BC a estabilidade de preços, mas sem prejuízo de “suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.” O Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão superior do sistema financeiro, tem o objetivo de formular a política da moeda e do crédito, com vista a estabilizar a moeda e o desenvolvimento.
O CMN e o BC são os responsáveis pela definição das metas de inflação e da taxa de juros.
O CMN é composto pelo presidente do BC, ministros da Fazenda e do Planejamento, mas para garantir voz a todos os setores da sociedade, deve-se agregar em suas decisões representantes do setor produtivo e de outros ministérios (como do Desenvolvimento, do Trabalho, Social). Além disso, temos de perguntar após cada ação estatal, não só como reagiu o mercado financeiro, mas também aferir as consequências no setor produtivo, no emprego e na renda.