Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil (https://fotospublicas.com/moradores-complexo-da-mare-ocupado-pelas-forcas-armadas-vivem-expectativa-de-mudancas-sociais/)
A pandemia do coronavírus escancara as desigualdades ao atingir mais as pessoas mais humildes (muitas impossibilitadas de se isolar) e os países pobres, inclusive o Brasil.
Essa realidade social revela ser possível se ter isolamento para as classes com renda, acesso a comida e ao comércio online, mas fica inviável obrigar os mais humildes fazerem o mesmo, pois essas pessoas (sem renda para adquirir o básico) são obrigadas, por questão de sobrevivência, a se expor ao vírus.
Da mesma forma, nos países pobres, onde, a maioria da população é composta por informais e autônomos, se tem dificuldade para cumprir o isolamento, devido a penúria de recursos para garantir uma vida digna.
Diferentemente dos países desenvolvidos que têm uma maior proteção social e podem emitir dinheiro na própria moeda, sem causar o enfraquecimento de sua economia, os governos dos países pobres não têm essas proteções para amortizar os efeitos da recessão, suas redes sociais são fracas, suas moedas e mercados financeiros são voláteis.
Em maio de 2020, os países desenvolvidos iniciaram o retorno da atividade econômica, nos termos das recomendações da Organização Mundial de Saúde, OMS, após apresentarem o declínio de mortos e infectados.
Diferentemente, a aflição toma conta dos homens públicos dos países pobres (Brasil, Chile, Nigéria, México, Índia, etc.), e, mesmo, atingindo o máximo de mortos, vêem-se na obrigação de retornar a atividade econômica, devido a sua fragilidade econômica, aumento da pobreza, da violência e distúrbios sociais e sem previsão da duração da crise sanitária.
Esse relaxamento de medidas de isolamento nos países pobres pode fazer disparar o número de casos de coronavírus, principalmente nas camadas mais carentes.
Além disso, nos países pobres existe uma sensação falsa de um número baixo de atingidos pelo vírus, muitas vezes por ter baixo índice de realização de testes na população, com subnotificação e dificuldades para administrar os infectados e restringir a disseminação do vírus.
Segundo previsões do Banco Mundial, com o coronavírus 60 milhões de pessoas deverão atingir a pobreza extrema, enquanto outras centenas de milhões perderão emprego.
O Brasil não suplantou as suas desigualdades, apontadas por Edmar Bacha, em 1974, quando se referiu ao Brasil como a “Belíndia”, país dividido entre pessoas que moram em condições similares à Bélgica e outras com padrão da Índia.
O Brasil, mesmo com isolamento, tem baixo índice de testes da população, não tem mapeado os infectados para evitar a disseminação, e, mesmo sem tendência de queda no número de infectados e mortos, acena de forma insegura com a reabertura da economia, utilizando como critério o índice de uso de leitos de UTI. Isso pode gerar uma explosão na proliferação do vírus e, gerar maiores dificuldades sociais e econômicas.