Viajar é sinônimo de descobertas e emoções, e atravessar pontes ou viadutos deveria ser um momento de admiração – a paisagem de rios, montanhas ou cidades enriquece a experiência. No entanto, a realidade da administração do gasto público no Brasil transformou essas estruturas em fontes de preocupação e medo.
Exemplos concretos não faltam. Quem passa por viadutos convive com uma rotina de insegurança. O tráfego intenso de carros, caminhões e ônibus, combinado com a sensação de tremores e trepidações, cria um cenário de alerta constante. Estar parado sobre estes viadutos é uma experiência que mistura o temor de que a estrutura não resista e o alívio ao ver o trânsito finalmente fluir.
A queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que conectava Tocantins e Maranhão, tornou mais sólidas as nossas preocupações. A tragédia deixou mortos e desaparecidos, além de contaminação ambiental do rio Tocantins por caminhões que caíram com ácido sulfúrico e defensivos agrícolas.
Mas essa não é uma tragédia isolada. Segundo o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), 727 pontes e viadutos no Brasil estão em condições precárias, sendo 597 classificadas como “ruins” e 130 em “estado crítico”. Esses números ilustram como a infraestrutura brasileira está à beira do colapso.
É fácil celebrar inaugurações, mas o desafio real é manter o que foi construído. Estruturas como pontes e viadutos demandam manutenção constante, o que exige recursos financeiros, planejamento e fiscalização rigorosa. Porém, o Brasil tem historicamente relegado a segundo plano os investimentos em conservação, preferindo construir novos projetos e deixando sem manutenção o que já está construído. É a mesma realidade das capitais brasileiras, com centros em decadência rodeados por bairros e condomínios luxuosos.
O colapso de uma ponte não é apenas uma questão de infraestrutura. Deve ser visto como um acidente evitável, sintoma de negligência e da necessidade de priorizar a manutenção.
É preciso ir além de sindicâncias e discursos oficiais. O Brasil necessita adotar, com urgência, uma política nacional de manutenção preventiva, com cronogramas claros, orçamentos definidos, certificações e responsabilização dos envolvidos em obras e fiscalizações.
Além disso, a tarefa deve ser estendida aos estados e municípios para a revitalização da infraestrutura nacional. Também, as concessões ao setor privado podem ser parte da solução, mas precisam vir acompanhadas de regulações e fiscalizações eficientes.
Com manutenções preventivas certificadas, poderemos sentir segurança para trafegar por pontes e viadutos. Assim, ao aprovar uma obra nova, deve-se ter certeza de que já foram destinados recursos para a manutenção de obras existentes e de uso da população, garantindo que todas estejam certificadas. Dessa forma, a prioridade será a existência de estruturas seguras para o uso da população.