O presidente Donald Trump reintroduziu em 2025 uma política tarifária agressiva e testa os limites das teorias econômicas contemporâneas sobre comércio internacional.
Organizações internacionais e economistas alertam para os efeitos da nova onda de tarifas, como a desaceleração do crescimento econômico dos EUA e pressões inflacionárias globais, compondo um cenário gerador de recessão.
As novas tarifas geraram incertezas e abalaram a crença nos ditames econômicos vigentes. Além disso, as taxas de juros futuras aumentaram com a expectativa de um surto inflacionário.
Por sua vez, parceiros comerciais estratégicos estão revendo tarifas e fazendo convênios com outros países para minimizar as perdas.
A atual política tarifária lembra o Smoot–Hawley Tariff Act de 1930, durante o governo Hoover, quando na tentativa de proteger a produção interna em meio à crise de 1929, os EUA elevaram tarifas sobre mais de 20.000 itens importados. O resultado foi desastroso: retaliações globais, queda brutal no comércio mundial e aprofundamento da recessão.
Os paralelos são inquietantes. Como em 1930, o protecionismo moderno parece ignorar a interdependência estrutural das economias globais — um traço ainda mais acentuado hoje, na era da globalização e da cadeia de valor mundial.
Após o trauma da guerra tarifária dos anos 1930, no pós-Segunda Guerra Mundial, tivemos a construção de uma ordem baseada no livre comércio, com redução das barreiras comerciais, crescimento econômico global, a diversificação industrial e a ascensão de países em desenvolvimento.
Agora, ao optar novamente pelo isolacionismo, os EUA desafiam a ordem multilateral que construiu e colocam em risco os alicerces que garantiram a sua hegemonia econômica no século XX.
Segundo a teoria clássica do livre comércio, defendida por Adam Smith e David Ricardo, o intercâmbio internacional maximiza a eficiência, especializa economias e amplia a riqueza global.
O protecionismo não é um antídoto para a crise — é seu catalisador, acende o espectro de uma crise similar à de 1929, porém em escala potencialmente mais ampla, dado o grau de integração da economia mundial hoje.
Mais do que uma repetição de erros históricos, o cenário atual remete à metáfora literária: Rip Van Winkle, de Washington Irving. Publicado em 1819, o conto narra a história de um homem que, ao fugir das pressões do cotidiano, adormece por 20 anos e desperta em um mundo completamente transformado, onde a colônia em que vivia tornou-se uma nação independente.
A política econômica dos Estados Unidos hoje parece embalada no mesmo torpor de Rip Van Winkle: incapaz de perceber as transformações globais, refugia-se em estratégias ultrapassadas e ilusões de grandeza passada. No conto, Rip acorda para uma nova ordem social e política; na realidade atual, os EUA podem acordar, dentro de 20 anos, para um país decadente, empobrecido e irrelevante no cenário global.