O livro “1984”, de George Orwell, publicado em 1949, descreve um estado dominador, onde o “Grande Irmão” personifica a vigilância sobre todos os cidadãos, onde tudo se vê e é monitorado.
O Estado Moderno Brasileiro tem aprimorado mecanismos de controle, sobretudo para otimizar a arrecadação de tributos, melhorar a segurança pública e mesmo para adotar políticas públicas.
Os nascimentos, os casamentos, os óbitos ocorridos e as suas causas, as escrituras ou o registro de doação, o usufruto, a alteração do contrato social, a compra e venda de imóveis, as separações, os divórcios, enfim quase todos os atos notariais e de registro dever ser informados, de forma obrigatória, pelos Oficiais dos Cartórios aos órgãos públicos, como o IBGE, o INSS, a Justiça Eleitoral, o Ministério da Defesa, a FUNAI, a Receita Federal e Estadual, a Secretaria da Segurança Pública, a Prefeitura Municipal, o Detran.
A Receita Federal, com a instauração do Mandado de Procedimento Fiscal, pode obter as informações bancárias dos contribuintes e utilizar os dados unicamente para a finalidade de fiscalização.
As imobiliárias, ao intermediarem a locação e receberem os aluguéis, têm a obrigação de informar à Receita Federal os valores recebidos e os dados do locador e locatário.
Os empregadores, ao efetuarem pagamento aos empregados, devem reter o imposto de renda devido e repassá-lo para a Receita Federal, além de informar o nome e dados dos contribuintes. Além disto, os empregadores devem informar todos os dados trabalhistas, previdenciários e fiscais para o Estado, para subsidiar a Receita Federal, o Ministério do Trabalho e Emprego, o INSS, Conselho Curador do FGTS. O Estado, com todas estas informações disponíveis, faz cruzamento dos dados, aponta incongruências, inicia procedimentos de fiscalização e autuação, e, com isto, consegue aumentar a arrecadação.
Paulatinamente, o Estado implanta radares eletrônicos nas ruas e estradas brasileiras para fazer a autuação dos veículos automotores de penalidades, como excesso de velocidade e avanço de sinais.
Nas rodovias, o Governo tem instalado instrumento do monitoramento do número de veículos que transitam na rodovia, para mensurar a necessidade de melhoria das vias.
Os veículos produzidos no Brasil têm a obrigatoriedade de já saírem de fábrica com chips de identificação, único para cada veículo. Com isto, o Estado brasileiro poderá adotar procedimentos de controle dos mesmos, a exemplo do adotado no Reino Unido, onde certas regiões centrais de Londres têm a cobrança automática de pedágio, pelo fato dos veículos nelas transitarem em certos dias da semana.
A eleição no Brasil está totalmente informatizada, com a implantação da urna eletrônica e a coleta informatizada dos votos, propiciando a apuração rápida do resultado das eleições.
O sistema bancário brasileiro, considerado dos mais modernos do mundo, detém informações pormenorizadas de todos os clientes, como aplicações, saldo conta corrente, capacidade de pagamento, índice de adimplemento e de inadimplência.
O poder judiciário, através do BacenJud, pode bloquear, através da penhora online, importâncias dos clientes dos bancos para o cumprimento de ordens judiciais.
Nas cidades brasileiras têm sido implantadas câmaras de monitoramento eletrônico, em pontos específicos, com a finalidade de monitorar ocorrências delituosas contra as pessoas e o patrimônio público e privado. O programa, operacionalizado pelas polícias militares, tem gerado maior efetividade e diminuição dos índices de criminalidade nos locais onde foram instalados, além de ajudar a cobrir rotas de fugas de suspeitos e identificar criminosos.
E o Estado Brasileiro, com os recursos tecnológicos da informática, concretiza a implantação do Grande Irmão moderno, em pleno Século XXI, ao exercer o controle sobre todos os cidadãos. Detém diversas informações, dentro de várias perspectivas, e está atento a tudo e todos, onde com o simples fornecimento de um número de identificação do cidadão é factível fazer uma análise de sua vida pessoal, financeira, patrimonial, profissional, previdenciária, judicial, fiscal, eleitoral, etc.