No dia 30.03 o Ministério da Defesa divulgou nota, em seu site, com “Ordem do dia” afirmando ter sido o movimento de 31.03.1964 um “marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época”.
A seguir, a nota diz: “Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo. Tudo isso pode ser comprovado pelos registros dos principais veículos de comunicação do período”.
Essa é a visão dos militares sobre o golpe de 1964, mas ela não reflete a perspectiva da grande maioria da população. A justificativa da população estar insatisfeita na época é uma mera manipulação dos fatos. Governantes legitimamente eleitos foram retirados do poder à força e seus eleitores foram desrespeitados.
De modo geral, em 1964 houve Golpe de Estado, perpetrado por militares pagos com dinheiro público e com o uso de equipamentos bélicos.
Foi um golpe arquitetado dentro do governo, por militares que tinham a obrigação constitucional de proteger a ordem e com o objetivo de retirar os políticos eleitos do poder. Foi um atentado contra a democracia, sendo um ato de indisciplina e contra a hierarquia, com retirada do poder da autoridade suprema, o Presidente da República, ofendendo a garantia da ordem constitucional, nos termos dos artigos 87, inciso XI, 176 e 177, da Constituição de 1946, em vigor na época.
Na ocasião foi instalado um governo provisório militar, com indicação de um militar para presidente, referendado, em eleição indireta, por um Congresso Nacional subjugado pela opressão.
A oposição não tinha armas, não dispararam nenhum tiro e não fizeram resistência. Entretanto, os militares não tinham a intenção de dialogar e integrantes da oposição foram presos, torturados, mortos, etc.
Os militares não aceitaram as críticas como uma prática normal da política, como a exercida em uma democracia e feita por grandes políticos, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Michel Temer, etc.
Saíram do poder por serem incompetentes para enfrentar a inflação e para apresentar respostas para as reivindicações sociais. Exerciam o poder de forma imposta, sem consultar a população e, com isso, incorreram em erros.
É preciso respeitar os sentimentos das pessoas nesse período sofrido de nossa história.
Somos hoje um país democrático, com ideais e sentimentos plurais. Os militares deveriam assumir os equívocos cometidos, cooperar para o entendimento de fatos ainda não elucidados e evitarem intervir na política interna do país.