Em comunicado divulgado no dia 05 de outubro de 2023, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, trouxe à tona uma notícia preocupante: setembro de 2023 foi registrado como o mês mais quente já documentado, com temperaturas médias superando em 1,4°C os níveis pré-industriais.
Os impactos imediatos dessas mudanças climáticas têm se manifestado de maneira cruel, principalmente nas regiões sul e sudeste do Brasil. Chuvas intensas têm assolado essas áreas, causando estragos materiais e, de forma trágica, levando a perdas de vidas humanas. É um sinal alarmante de que as alterações climáticas já não são uma ameaça futura, mas uma realidade urgente.
A natureza parece clamar por atenção, enviando sinais evidentes da necessidade de mudanças e adaptações. As constantes enxurradas e enchentes na região, agora exacerbadas, são, em grande parte, resultado das intervenções humanas no ambiente natural.
Cidades antigas, erguidas às margens de rios, sofreram intervenções urbanísticas que, ao invés de proteger, contribuíram para agravar os problemas. A redução das áreas de transbordamento e o confinamento dos cursos d’água em canais estreitos, em nome do desenvolvimento, têm se mostrado desastrosos.
Por outro lado, o crescimento desordenado das cidades, marcado pela expansão de construções e vias de trânsito, tem transformado áreas verdes e permeáveis em desertos de asfalto e concreto. Esse cenário compromete a infiltração de água nos lençóis freáticos, aumentando o volume direcionado para os rios e amplificando os riscos de enchentes.
É preciso rever o atual modelo de cidade, revendo a forma de impermeabilização, fazendo medidas compensatórias para substituir a função da natureza, pois a falta de galerias para a filtragem das águas, a ausência de bolsões de água e a incapacidade de direcionar o escoamento pluvial para o lençol freático revelam uma abordagem inadequada ao desenvolvimento urbano.
As calamidades climáticas não são novidade, são certezas de previsão a cada ano e as repetições devastadoras continuam a assombrar as cidades brasileiras. Obras emergenciais de drenagem e reposição da infraestrutura urbana são executadas, mas a falta de abordagens sustentáveis para coexistir com a natureza perpetua o ciclo de desastres. Basta olhar para os registros de anos anteriores, como as trágicas chuvas em Belo Horizonte em 2019 e Contagem em 2020, para entender a recorrência dessas tragédias.
A ausência de ações efetivas para mitigar os impactos das intervenções humanas na natureza é alarmante. À medida que as cidades crescem, a concentração de calor em regiões limitadas contribui para a intensificação das chuvas intensas. É imperativo que se adotem medidas concretas para reverter essa tendência e promover um desenvolvimento sustentável que respeite os equilíbrios naturais. O desafio agora não é apenas enfrentar as mudanças climáticas, mas também repensar fundamentalmente a maneira como construímos e vivemos em nossas cidades.