As eleições municipais de 2024 evidenciaram tanto a força quanto os complexos desafios da democracia brasileira. Com um número expressivo de prefeitos reeleitos, o papel da máquina pública emergiu como diferencial crucial. Prefeitos que controlam recursos e políticas têm uma vantagem competitiva, e isso lança um questionamento sobre a equidade do processo: em que medida esses recursos podem estar enviesando o resultado em favor de quem já está no poder?
O multipartidarismo brasileiro, muitas vezes criticado por sua fragmentação, demonstrou seu valor ao proporcionar uma representatividade ampla. Em 2024, esse sistema mostrou-se resiliente, promovendo uma alternância saudável e privilegiando, em boa parte, candidatos de perfil mais moderado e alinhados com as necessidades locais. A rejeição de candidatos com discursos extremos reflete um eleitorado mais seletivo, que prioriza liderança equilibrada, mesmo em meio a um cenário polarizado.
Outro ponto marcante foi o alto índice de abstenção: no segundo turno, 29,26% dos eleitores optaram por não votar. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve investigar as razões por trás dessa significativa ausência, que pode refletir desilusão política, dificuldades logísticas ou até mesmo falta de identificação com os candidatos. Esse fenômeno desperta um alerta sobre o engajamento cívico e a importância de tornar o processo eleitoral mais inclusivo e atraente para os eleitores.
As eleições de 2024 também trouxeram à tona o impacto das novas tecnologias no processo eleitoral. A utilização de ferramentas como deepfakes e redes automatizadas de fake news ameaçou a integridade da eleição, colocando à prova a capacidade de resposta do TSE. Em um cenário de manipulação digital crescente, é essencial que a Justiça Eleitoral esteja preparada para conter o avanço dessas práticas e assegurar que o processo eleitoral se mantenha justo e transparente.
Embora desafiadora, essa eleição reafirma a vitalidade da democracia brasileira, que segue em construção e adaptação a novos tempos. A derrota de candidatos radicais, como Pablo Marçal em São Paulo, reforça a preferência do eleitor brasileiro por lideranças moderadas e comprometidas com soluções locais. No entanto, as altas taxas de abstenção e o uso de tecnologias de manipulação indicam a necessidade de reformas urgentes para fortalecer os mecanismos de controle e fiscalização.
O multipartidarismo, com todos os seus percalços, cumpre um papel essencial na manutenção da estabilidade política e da preservação democrática, garantindo a representatividade dos eleitores e evitando a supremacia de um partido. Com um eleitorado cada vez mais atento e uma Justiça Eleitoral vigilante, o Brasil segue aprimorando sua democracia. Resta saber se, no futuro, os candidatos estarão realmente comprometidos em dialogar com as demandas reais da população — desafios práticos que formam a verdadeira razão de ser da política local.