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Foto: Charles Deluvio (https://unsplash.com/pt-br/fotografias/mao-humana-sinalizacao-neon-AT5vuPoi8vc)

Do sorriso fácil ao silêncio distante: o político antes e depois da eleição

Ah, as eleições de 2024, um espetáculo nacional! O Brasil, sempre efervescente, viu seus candidatos desfilarem pelas ruas, sorrindo para todos, abraçando desconhecidos e prometendo mundos e fundos com uma convicção teatral. Eu mesmo, movido pela esperança (ou seria teimosia?), dei meu voto ao vereador que, durante a campanha, parecia a personificação da empatia.

Ele – ou melhor, aquele ser iluminado – tinha uma palavra amiga para cada morador da nossa comunidade. “Vamos juntos mudar nossa cidade!”, dizia ele, enquanto distribuía abraços calorosos e apertos de mão firmes. Mal sabíamos que aquele aperto tão convincente era, na verdade, um ensaio para os portões trancados que nos aguardavam no futuro.

Eleito, o brilho do sorriso deu lugar a um olhar distante e indiferente. Aquele que antes caminhava pelas ruas agora somente anda de carro com vidros escuros e levantados. Suas redes sociais, antes repletas de fotos ao lado de eleitores e registros de sua “proximidade”, foram silenciosamente transformadas em vitrines de cerimônias, reuniões com outros políticos e, claro, discursos recheados de termos como “estamos negociando” e “vamos ficar fortes”.

E assim, o antes incansável político-candidato transformou-se no imbatível político-eleito… na arte do esquivamento! Antes, ele dizia: “A solução está em suas mãos, amigo”. Agora, suas mãos parecem ocupadas fazendo coisas de seu interesse, desimcumbidas de atender e receber demandas do povo.

As promessas? Ah, aquelas joias reluzentes da campanha! Foram cuidadosamente embrulhadas e guardadas em gavetas rotuladas como “para um futuro indeterminado”. Educação de qualidade? Agora “depende do orçamento”. Saúde eficiente? “Complexo demais, precisamos de mais estudos”. Segurança garantida? “Vamos criar um comitê para pensar nisso”. E, claro, a desculpa favorita: a boa e velha “herança maldita”.

E nós, os eleitores? Apenas figurantes na ópera democrática. Antes, éramos protagonistas, com nossos apertos de mão e nossas demandas ouvidas com a atenção de quem assiste a uma novela com final emocionante. Agora, somos um público distante, assistindo de longe a trama que ajudamos a construir.

Mas não pensem que estou desanimado. Longe disso! Estou apenas… resignado. Afinal, o roteiro é velho conhecido. A diferença entre o político-candidato e o político-eleito é previsível.

Então, enquanto espero a próxima temporada eleitoral, já preparei minha lista de cobranças. Porque, caro leitor, uma coisa eu aprendi: político tem memória seletiva, mas o eleitor precisa ter memória de elefante. Na próxima vez que aquele sorriso fácil surgir, acompanhado de promessas mágicas e tapinhas nas costas, estarei de lupa na mão, atento aos detalhes e preparado para não ser iludido. Porque, depois das urnas, o avesso sempre se revela – e não terei mais tapinhas nas costas, mas sim uma mão educadamente estendida, pedindo que eu me afaste.

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