As chuvas fortes no estado do Rio Grande do Sul no final de abril e no mês de maio de 2024 podem marcar uma mudança de mentalidade do povo brasileiro quando o assunto é meio ambiente.
Acostumados a práticas de ocupação, pública e privada, do espaço, com descaso e despriorização do meio ambiente, as tragédias tendem a mudar esta prática.
Temos de repensar nossa forma de ocupar os espaços, procurando formas de convivência da civilização do homem com o meio ambiente, pois as tragédias mostram que priorizar uma ocupação predatória do meio ambiente é gerar, no futuro, catástrofes.
Muitas cidades brasileiras foram construídas e tiveram o desenvolvimento ao redor e até por cima de rios caudalosos. Avenidas, em diversas cidades, percorrem trajetos ocupados, outrora, por rios, com asfalto ou concreto por cima dos leitos de águas. Avenidas foram construídas beirando os rios, com diminuição do leito dos rios para dar prioridade ao trânsito. Administrações municipais impermeabilizam ruas com mantas asfálticas para gerar conforto para os proprietários de veículos, obstruindo grandes áreas de poderem absorver as águas das chuvas. O resultado é que grandes chuvas geram grandes volumes de água sendo direcionados para as partes mais baixas das cidades, com destruição de propriedades e perdas de vidas.
Além disso, cada espaço urbano, seja uma calçada, uma pequena área, está sendo cimentado, em prol da suposta praticidade da manutenção.
Apesar das catástrofes climáticas, muitos administradores e cidadãos defendem e efetivam ações para termos um meio ambiente menos equilibrado e sustentável.
Os despropósitos são gritantes, tudo em prol do discurso da garantia de melhoria de vida para a população, seja em mais ruas pavimentadas, mais passeios limpos, mais vias disponíveis para os veículos. Entretanto, estas atitudes não sustentáveis causam efeitos climáticos contra os próprios cidadãos, que podem perder seu patrimônio (imóveis, móveis, veículos, etc) e até a sua vida.
A verdade é que o homem deseja controlar o meio ambiente, fazê-lo submisso aos seus interesses econômicos e de comodidade, mas a natureza não é sempre submissa e responde com grande força, seja na forma de chuvas torrenciais ou secas intensas.
Essas tragédias recentes, com suas consequências devastadoras, deveriam servir como um chamado urgente à reflexão e à ação. É necessário repensar todo o modelo de desenvolvimento urbano, priorizando a preservação ambiental e a adoção de práticas sustentáveis. Isso inclui a implementação de políticas de uso do solo que permitam a permeabilidade e a absorção da água, o investimento em infraestruturas verdes, como parques e áreas de preservação, e a promoção de uma cultura de conscientização ambiental nas comunidades. Somente através de uma abordagem integrada e holística poderemos construir cidades resilientes e harmoniosas com o meio ambiente, capazes de enfrentar os desafios climáticos que o futuro nos reserva.