No último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no dia 03 de novembro, milhões de alunos foram convidados a refletir sobre os “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Esse tema não apenas estimulou os estudantes, mas também ressaltou para toda a sociedade a necessidade de reflexão sobre essa questão.
A herança africana é uma das bases da identidade cultural brasileira, presente na culinária, na música, nas danças, nas religiões e nas expressões linguísticas. No entanto, a sociedade brasileira ainda enfrenta dificuldades em reconhecer e valorizar essa contribuição de forma justa e plena. Esse processo de subestimação é alimentado por um racismo estrutural que persiste nas instituições e nos costumes, resultando em um cenário onde a cultura afro-brasileira é, muitas vezes, marginalizada.
O racismo estrutural é uma herança direta da escravidão. Com a abolição, em 1888, milhões de negros foram deixados à margem da sociedade, sem acesso à terra, educação ou assistência governamental. Essa exclusão social, consolidada naquele período, ainda se reflete nas estatísticas sociais e econômicas atuais.
A educação desempenha um papel central no processo de valorização da herança africana. A Lei 10.639, de 2003, tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira no currículo escolar, mas ainda é insuficiente. O ensino muitas vezes se restringe à abordagem da escravidão, deixando de lado as contribuições culturais, científicas e artísticas. Assim, é essencial adotar uma abordagem mais inclusiva e abrangente, oferecendo uma visão completa da história e valorizando figuras negras que marcaram o país.
Outro obstáculo para a valorização dessa herança é a intolerância religiosa. Religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, enfrentam discriminação e ataques, tanto físicos quanto simbólicos, o que dificulta o reconhecimento dessas práticas como parte legítima do patrimônio cultural do país.
As dificuldades para alcançar a igualdade racial refletem-se também nas oportunidades de inserção social e econômica. A população negra ainda enfrenta desafios para acessar posições de liderança e melhores oportunidades de emprego. Políticas de inclusão, como as cotas para o ensino superior, no serviço público e iniciativas de contratação em empresas, têm auxiliado a combater essas desigualdades.
Temos também a negação do racismo, o que prejudica o avanço de políticas públicas voltadas para a inclusão e impede uma abordagem mais transparente sobre os desafios enfrentados pela população negra. Ao longo da história, figuras públicas e intelectuais, como Machado de Assis e Luís Gama, destacaram-se na luta contra as injustiças e preconceitos, mas a verdadeira inclusão ainda é um objetivo distante.
A luta pela valorização da herança africana no Brasil é, portanto, uma luta pela cidadania plena e requer o compromisso de toda a sociedade para promover um país mais justo e inclusivo, onde o respeito à diversidade seja uma realidade para todos.