O pagamento de comissões é um mecanismo comum em várias profissões. Ele existe para estimular desempenho, vender mais e acelerar decisões. Entretanto, existe um ponto essencial, muitas vezes negligenciado, que é a confiança. O cliente precisa acreditar que a recomendação recebida é técnica — e não apenas motivada em busca de remuneração.
O episódio recente envolvendo o Banco Master expôs o lado frágil dessa relação. Corretoras ofereceram títulos do banco, especialmente CDBs, prometendo rentabilidade elevada — em alguns casos, até 140% do CDI. A mensagem vendida era de rendimento acima da média, segurança e solidez. Parte significativa dos investidores acreditou nessa narrativa e colocou seu dinheiro no banco.
A contrapartida para as corretoras eram o recebimento de remuneração por cada aplicação captada. O banco ganhava capital, as corretoras ganhavam comissão — e o investidor acreditava estar fazendo um bom negócio.
O desfecho mostrou outra realidade. Nem o Banco Master, nem as corretoras ofereceram garantia real de proteção. Com a intervenção do Banco Central e a posterior liquidação, ficou evidente que apenas aplicações de até R$ 250 mil serão cobertas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Todo valor acima desse teto ficará sujeito ao processo de liquidação — lento, incerto e disputado.
Esse caso reacende um alerta que vale para o mercado financeiro e para qualquer área em que existe comissão por desempenho dos profissionais envolvidos: recomendações comissionadas nunca devem ser aceitas sem análise técnica. Sem esse cuidado, o consumidor cai em promessas fáceis, ciladas e narrativas construídas para induzir decisões rápidas. No fim, quem sofre a perda não é o intermediário — é quem aplicou seu dinheiro acreditando na recomendação.
Situações semelhantes aparecem em outros setores. No mercado imobiliário, por exemplo, é preciso ter profissional de confiança, pois os corretores inescrupulosos podem agir com estratégia de convencimento e sem transparência. Visitas de imóveis marcadas à noite — sem luz natural, sem tempo para avaliar infiltrações, ruídos ou vizinhança — podem fazer parte do repertório. O mesmo vale para visitas seletivas: garagens estreitas, áreas comuns deterioradas e defeitos estruturais muitas vezes são omitidos.
O ponto central é simples: a comissão não é um problema por si só. O problema é quando ela se sobrepõe ao interesse do cliente.
Num cenário de informação abundante, crédito fácil e pressa generalizada, cabe ao consumidor assumir um comportamento mais crítico. Isso significa comparar, questionar e pedir comprovação. Significa lembrar que dinheiro custa tempo de vida — e não deve ser colocado em risco apenas porque alguém afirmou ser “um bom negócio”.
A lição deixada pelos episódios recentes não é apenas financeira. É cultural: confiança não pode ser negociada pela promessa de retorno rápido. E recomendações profissionais só têm valor quando vêm acompanhadas de transparência e responsabilidade com as consequências.
