O horário de trabalho começava às 13 horas. Eu chegava a pé do restaurante onde almoçava, pois não tinha dinheiro para pagar a passagem de ônibus. Eram tempos difíceis, mas de muito aprendizado. Durante a caminhada, absorvia o ambiente ao meu redor e percebia a importância de prestar atenção em cada detalhe: os casarios antigos que resistiram ao tempo, lado a lado com os arranha-céus modernos que simbolizavam o progresso da cidade. Nos rostos apressados dos transeuntes, via a ansiedade e o nervosismo que também me acompanhavam, reflexos de uma cidade movida pelo trânsito caótico e pela pressão do cotidiano.
Ao chegar ao trabalho, a rotina era intensa e exigente. A carga de tarefas parecia interminável, e cada ação exigia meticulosidade. Havia códigos a decifrar, somas a conferir e inúmeros documentos a serem preenchidos com duplicatas e borderôs. No meu trabalho, a falha em pequenos detalhes podia causar grandes prejuízos, onde qualquer erro, por menor que fosse, era suficiente para prejudicar a agência, comprometendo a participação nos lucros que todos os funcionários aguardavam com expectativa.
Certo dia, fui chamado para uma conversa com Odu, meu chefe. Sabia que a crítica estava por vir, mas também enxerguei ali uma oportunidade de crescimento. Ele, com paciência, apontou onde eu estava errando. Mais do que isso, me ensinou o valor de uma rotina estruturada de execução e, principalmente, de conferência. Suas palavras, firmes e atenciosas, ecoaram em minha mente: “Tudo que não é revisado pode conter erros“.
Odu me mostrou que o sucesso de um profissional não está apenas na execução rápida, mas na capacidade de revisar e corrigir. Essa compreensão mudou minha perspectiva sobre o trabalho e a vida. Eu percebi que o verdadeiro aprendizado nasce dos erros que estamos dispostos a corrigir.
Aquela fase de desafios, que inicialmente parecia apenas um obstáculo financeiro e profissional, acabou se revelando uma verdadeira escola de vida. Não era só a falta de dinheiro que marcava aqueles dias; era também a pressão constante, o medo de errar e a sede de aprender que forjavam a pessoa que eu estava me tornando. Aos poucos, aprendi a valorizar não apenas o esforço de chegar ao trabalho, mas a caminhada em si, no sentido literal e figurado. Ao observar o que havia ao meu redor, absorvi lições nos detalhes e compreendi que, muitas vezes, são os pequenos passos que nos levam às maiores conquistas.
No final, aqueles momentos de dificuldade moldaram minhas atitudes para toda a vida. Foi nessa fase que entendi a importância de executar e revisar tudo o que fazia, reconhecendo as limitações humanas na execução das tarefas e a necessidade contínua de correção. Assim, um dogma foi inscrito em minha conduta: “Fazer e conferir“, algo que carrego comigo até hoje, um lembrete de que o sucesso está nos detalhes e na disposição de melhorar a cada passo.