No dia 23.03, o presidente da República, Jair Bolsonaro, fez pronunciamento, nos embalos de aversão ao governo devido às 300 mil mortes na pandemia. No mesmo instante, em diversas capitais, ocorreram manifestações de repúdio ao seu governo, ao som de panelas e gritos ofensivos.
No pronunciamento, Bolsonaro desvirtuou a verdade em diversas ocasiões, anunciou 2021 como o ano da vacinação, se apresentou como um defensor efusivo da vacinação e disse ser solidário com os brasileiros.
Bolsonaro foi vencido pelo vírus e pela sua própria forma negacionista de enfrentamento da pandemia. Constata, indignado, o povo cobrar dele solução para a falta de leitos de UTI, insuficiência de medicamentos e pela lentidão da vacinação.
Apesar de tudo, adotou no pronunciamento retórica desvirtuada da realidade, ao afirmar, por exemplo “Somos incansáveis na luta contra o coronavírus” ou quando disse “em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome”.
A realidade é diferente. É correto afirmar ter o governo federal adotado medidas econômicas para minimizar os impactos da pandemia (auxílio emergencial, empréstimos para empresários, etc.), mas, desde 2020, Bolsonaro ignorou e boicotou as medidas preventivas (isolamento, evitar aglomeração, uso de máscaras e de gel), manifestou ser contra a vacinação e demorou a iniciar a aquisição de vacinas, proferiu afirmações desrespeitosas às pessoas vítimas do vírus, como ser uma “gripezinha”, “não ser coveiro”, “Eu sou Messias, mas não faço milagre”, “todos iremos morrer um dia”, “Tem de deixar de ser um país de maricas”, “Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”
As falas no pronunciamento ficaram eivadas de manipulação de dados do passado, mas seus erros estão registrados na memória do povo brasileiro e nos registros da história.
Como homem político, no pronunciamento adequou o seu discurso para manipular a realidade, sob o receio da aceleração do número de mortes, do recrudescimento da oposição, da perda de apoio das classes de maior escolaridade, da paralisia da economia, da anulação das condenações de Lula.
No início da pandemia, Bolsonaro até andava pelas avenidas de Brasília, desrespeitando regras de isolamento social (aglomerando, não usando máscara, etc.), para visitar áreas públicas e do comércio, mas, hoje, não encontraria ambiente público propício para se movimentar livremente, pois escutaria impropérios e ofensas. Pode circular livremente somente no meio dos seus seguidores e nos espaços da administração pública.
Até o momento, somente é verdade o fato de ser difícil de vencer o coronavírus e de mudar o pensamento irracional de Bolsonaro, dessa forma, ele colhe o que plantou por não ter tido cuidados mínimos com a saúde do povo.