Foto: Jorge Araujo/Fotos Publicas (https://fotospublicas.com/panelaco-no-bairro-dos-campos-eliseos-contra-o-governo-de-jair-bolsonaro-e-mais-um-ministro-da-saude-que-pede-demissao-por-nao-concordar-com-interferencia-na-pasta/)
Em 2018, o candidato Jair Bolsonaro propôs uma nova política, com o fim do “toma lá dá cá”.
Constou em sua proposta eleitoral: “Propomos um governo decente, diferente de tudo aquilo que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um governo sem toma lá-dá-cá, sem acordos espúrios.”
Os fatos mostraram ser essa intenção mera retórica eleitoral.
No livro Tormenta: O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos, Companhia das Letras, p. 22-26, Thaís Oyama, mostra o otimismo com Bolsonaro: “Havia sinais de que as coisas poderiam mudar para melhor. Um deles era Bolsonaro ter cumprido a promessa de campanha de não fatiar seu ministério entre partidos em troca de apoio no Congresso…”.
Tudo mudou a partir do pedido de demissão de Sérgio Moro, do cargo de Ministro da Justiça, e em sua saída acusou Bolsonaro agir para interferir politicamente na Polícia Federal, com o fim de colher informações e proteger a sua família e amigos.
A partir daí, o Supremo Tribunal Federal, STF, autorizou a instauração de inquérito, para averiguar eventuais infrações, do Presidente e do ex-ministro. Caso Bolsonaro seja acusado do cometimento de crimes, isso pode insuflar a aceitação de um (de dezenas) de pedidos de impeachment protocolados no Congresso Nacional.
Bolsonaro, diante da hipótese de impeachment, afirmou ter apoio irrestrito dos militares, mas o Ministro da Defesa, Fernando Azevedo, no dia 04.05, divulgou nota para reforçar estarem as forças armadas “ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”. Com isso, Bolsonaro teve de obedecer o jogo democrático e decidiu reforçar a sua base de apoio no Congresso, ofereceu cargos para partidos, inclusive para o Centrão, e no governo federal voltou a se praticar o “toma lá dá cá”.
Dentre os novos aliados, está um dos símbolos do “toma lá dá cá”, Roberto Jefferson, o qual disse “não houve qualquer acordo financeiro entre o PT e o PTB, especialmente envolvendo o apoio às candidaturas de um ou outro partido”, em resposta a denúncias apresentadas pela Veja, de 22.09.2004, de o PTB ter se rebelado contra o governo por falta de dinheiro. Entretanto, apenas um ano depois, em junho de 2005, denunciou o esquema do Mensalão, conforme Veja, de 22.06.2005, edição 1.910, p. 52-53, 66-67, e disse: “Não há partido nenhum aqui que faça diferente. Nenhum partido aqui recebe ajuda na eleição que não seja assim… Os dinheiros vêm dos empresários que, a maioria das vezes, mantém relações com as empresas públicas. É assim e sempre foi…”
Roberto Jefferson é o exemplo de aliado dos governos, de esquerda e de direita, contendo o maior atributo de atender só os seus objetivos pessoais e partidários.
Bolsonaro fez pactos com parceiros pouco confiáveis, usou de antigas práticas políticas de sobrevivência, quebrou uma promessa de campanha eleitoral e essas medidas anti-impeachment sairão caras ao contribuinte brasileiro.