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Foto: Pascal Bernardon (https://unsplash.com/pt-br/fotografias/arte-da-parede-animal-azul-e-vermelha-8VK0kYRXJOY)

O Gato e o Rabo

A humanidade é um ciclo de repetições. Avança, tropeça, recomeça — como um gato que corre atrás do próprio rabo, sem perceber que a causa e o efeito se confundem. Tragédias, guerras, intolerâncias e ilusões são capítulos que se reescrevem sob novas roupagens, mudam os personagens, mas o enredo permanece inquietantemente parecido.

As calamidades sempre moldaram a história. Algumas destroem lares; outras, valores. O aparecimento do nazismo na Alemanha é exemplo de como a busca desesperada por soluções fáceis pode conduzir uma nação inteira à barbárie. O regime surgiu sob o disfarce de otimismo: prometia crescimento econômico, emprego e dignidade nacional. Parecia o remédio para curar as feridas deixadas pela Primeira Guerra Mundial. Mas o que se apresentou como salvação revelou-se veneno — um projeto de poder baseado na perseguição, na exclusão e na mentira travestida de ideal. Ao final, a maioria das nações entraram em guerra e tivemos milhões de mortes de inocentes.

O presente passa, e logo estamos no futuro. No entanto, a lição do passado deve ser lembrada e não ignorada. Entretanto, a história insiste, mas o homem resiste em aprender que não existem soluções fáceis para problemas.

Políticos com discursos fáceis, inflamados de promessas desarrazoadas, encontram terreno fértil onde há medo e desesperança. A retórica do “nós contra eles” continua a seduzir, como se a divisão pudesse gerar unidade.

Mas o engano não vem somente da política. Nas esferas sociais e espirituais, o mesmo padrão se repete: a dor e o desamparo abrem espaço para falsos profetas, que se alimentam da fraqueza alheia. Prometem milagres, vendem bênçãos, exploram a fé. Usam o nome de Deus como produto e transformam o sofrimento humano em moeda.

Vivemos, sem dúvida, em tempos de conforto material, de avanços médicos e tecnológicos que nossos antepassados não ousariam imaginar. No entanto, todo esse progresso não é suficiente para silenciar as angústias do coração. O homem moderno dorme em colchões confortáveis, mas demora a dormir e até perde o sono. Remédios fáceis não saram e não trazem o sono desejado. Está conectado ao mundo inteiro, mas se sente só. Busca remédios para o corpo, mas a alma continua doente.

Em meio a tantas respostas prontas e atalhos sedutores, a pergunta essencial permanece: como encontrar paz em tempos de ruído, como manter a lucidez em meio ao engano, como estar tranquilo em um mundo tão afoito por aceitação?

Talvez o primeiro passo seja parar de correr atrás do próprio rabo — reconhecer que as soluções fáceis escondem armadilhas, que a liberdade exige vigilância e que o verdadeiro progresso não está apenas no que possuímos, mas no que aprendemos.

Enquanto isso não acontece, seguiremos girando em círculos — como o gato que, fascinado pelo próprio rabo, confunde movimento com sentido.

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