Controlar o gasto público no Brasil é um desafio, com disputas entre quem recebe benefícios e quem seria chamado a financiá-los. Há um consenso sobre a necessidade de equilibrar as contas públicas, mas também há resistência generalizada a abrir mão de vantagens ou aceitar aumento de impostos.
O debate sobre corte de despesas costuma apontar para os programas sociais, como o Bolsa Família, o Farmácia Popular e os investimentos em saúde e educação. Enquanto isso, propostas para retirar subsídios ou rever privilégios fiscais de grupos com influência política raramente avançam. A disputa segue sem resposta clara: quem será o lado a arcar com as perdas?
No Congresso, o discurso pelo ajuste fiscal caminha ao lado de decisões que ampliam os gastos. Um exemplo recente foi a aprovação no aumento no número de cadeiras da Câmara dos Deputados, de 513 para 531. No mesmo período, os parlamentares rejeitaram o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que era uma das alternativas propostas para elevar a arrecadação e reduzir o déficit.
A resistência aos ajustes fiscais é ampla e se espalha por todos os grupos sociais. Os mais pobres não aceitam cortes nos programas sociais. Os mais ricos se opõem ao aumento de tributos sobre grandes fortunas, dividendos e lucros. A classe média também resiste a pagar mais impostos ou perder subsídios e serviços públicos.
Dentro do setor público, tentativas de cortar benefícios que elevam salários acima do teto constitucional enfrentam fortes barreiras. No Judiciário e no Ministério Público, vantagens como auxílios e gratificações seguem sendo mantidas. Sindicatos e associações de servidores reagem a qualquer proposta de congelamento ou revisão desses pagamentos.
O Banco Central, por sua vez, contribui para o aumento das despesas públicas ao manter juros elevados. A taxa básica de juros, alta mesmo com inflação controlada, pressiona o orçamento federal com custos crescentes no pagamento de juros da dívida e, ao mesmo tempo, reduz o ritmo de crescimento da economia.
No Poder Executivo, programas sociais seguem como prioridade. Além da manutenção de benefícios como o Bolsa Família, novos programas são criados como a ampliação do vale gás, do subsídio a conta de energia elétrica, a criação do programa pé de meia, etc.
Enquanto todos afirmam apoiar o equilíbrio fiscal, poucos aceitam ser o lado que perderá. Benefícios fiscais concedidos a setores com forte influência política continuam preservados. Recursos públicos também seguem sendo destinados a interesses localizados.
O impasse fiscal brasileiro se mantém: a necessidade de ajuste é reconhecida, mas há resistência em financiar o equilíbrio das contas. O resultado é uma disputa contínua para definir quem vai abrir mão de benefícios e quem continuará a ser protegido. O discurso pelo controle do gasto público permanece, mas a prática mostra que todos querem preservar seus próprios ganhos — e ninguém quer pagar a conta.