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Foto: Robert Anasch (https://unsplash.com/pt-br/fotografias/pilha-de-livros-de-titulos-variados-_P1eESx2xg0)

A adaptação das Bancas ao aumento da digitalização

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Por décadas, visitar a banca de revistas e de jornais era um ritual que ia muito além da simples compra de uma publicação. Era um compromisso com a informação, com o prazer da leitura e, acima de tudo, com a comunidade. Caminhar até aquele ponto fixo, onde pilhas de jornais e revistas se amontoavam, significava participar de um universo vibrante de trocas e descobertas. Entre as prateleiras conversas se desenrolavam sobre política, esportes, cultura e as últimas novidades do bairro, criando laços que resistiam ao tempo.

Cada edição recém-chegada era aguardada com ansiedade. O ato de folhear as páginas, sentir o cheiro da tinta fresca e apreciar o design meticuloso de cada publicação tornava-se uma experiência sensorial única. Para muitos, a banca não era apenas um comércio, mas um porto seguro da informação impressa, um lugar onde se tinha o prazer pela espera por uma nova edição.

Na Banca do Jurandir, esse encanto era ainda mais evidente. Mesmo com dificuldades de locomoção, ele fazia questão de receber cada cliente com um sorriso. Mais do que um vendedor, era um contador de histórias, compartilhando curiosidades, comentando notícias e ouvindo atentamente quem passava por ali. No dia do meu casamento, ele estava lá, do lado de fora da igreja, apoiado em suas muletas, apenas para me cumprimentar. Esse gesto simboliza a essência das bancas: eram espaços de conexão humana, muito além do papel e da tinta.

Mas essa cena, outrora tão comum, vai se tornando uma lembrança. Com a crescente digitalização, revistas e jornais migraram para telas de celulares e computadores, eliminando não apenas a espera, mas também o ritual da busca e o contato humano nas bancas. Como consequência, uma cadeia produtiva inteira foi desmantelada: gráficos, linotipistas, distribuidores e jornaleiros viram seu espaço desaparecer. As bancas, antes abarrotadas de edições, agora tentam sobreviver como lojas de conveniência improvisadas, vendendo capas de celular, carregadores e poucos exemplares remanescentes.

O que antes era um universo tátil de papel impresso e capas chamativas transformou-se em um fluxo invisível de dados digitais. Se, por um lado, o acesso à informação se democratizou, por outro, perdeu-se a materialidade, a espera e o encanto das publicações físicas. As bancas que resistem buscam alternativas outras de garantir o seu faturamento. No entanto, o modelo tradicional está em vias de extinção.

Recentemente, recebi amigos em casa e mostrei minha coleção de revistas, cuidadosamente embaladas e preservadas ao longo dos anos. Seus filhos adolescentes olharam as edições com curiosidade e surpresa. Para eles, revistas eram objetos desconhecidos, relíquias de um tempo que já não lhes pertence. O futuro é digital, e essa é a realidade que se impõe. Mas, ao perdermos o ritual das bancas, talvez tenhamos deixado para trás mais do que apenas papel e tinta.

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