Dois episódios, separados por mais de quatro décadas, revelam como a fragilidade institucional e a luta pelo poder podem ameaçar a democracia no Brasil.
O Atentado do Riocentro, em 1981, e a recente Operação Copa 2022, de novembro de 2022, ilustram tentativas de manipular o cenário político de forma extrema e ilegal.
Na década de 1980, o Brasil estava em plena transição para a redemocratização, mas alas radicais do regime militar ainda resistiam a ceder o poder. Setores da “linha-dura” das Forças Armadas tentaram explodir uma bomba no estacionamento de show em homenagem ao Dia do Trabalhador, com o objetivo de atribuir a culpa à oposição, instaurar o caos e justificar medidas repressivas.
A bomba explodiu no colo de um dos militares e o plano fracassou. Isto desmoralizou a narrativa oficial e a revelação de envolvimento de agentes do Estado abriu caminho para o fortalecimento das pressões pela redemocratização.
Mais de 40 anos depois, outro episódio colocou em xeque a estabilidade democrática no Brasil: a tentativa de golpe desmantelada pela Polícia Federal sob o codinome “Copa 2022”. A conspiração, liderada por militares e um agente da PF, buscava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim como no Riocentro, a trama teve agentes do Estado, mas o amadorismo dos conspiradores evitaram consequências mais graves.
No regime militar, as Forças Armadas ocupavam o centro do poder. A chegada de Jair Bolsonaro ao poder em 2019 trouxe os militares de volta ao centro da política. Eles se tornaram protagonistas de um governo que frequentemente questionava as instituições democráticas e flertava com o autoritarismo. A vitória de Lula reacendeu o temor de perda de influência por parte do grupo mais radical.
O atentado do Riocentro ocorreu em um contexto de resistência à abertura democrática. A Operação Copa 2022, por sua vez, emergiu em um cenário de extrema polarização, alimentada por narrativas de desinformação e teorias conspiratórias. Ambas as situações evidenciam como a radicalização política pode enfraquecer as instituições democráticas.
Enquanto o Riocentro marcou o declínio de um regime que já havia perdido legitimidade, a Operação Copa 2022 aponta para desafios para consolidar a cultura democrática e a necessidade de proteger as instituições da influência de grupos extremistas.
Assim como o atentado do Riocentro mostrou que o autoritarismo tinha os dias contados, a Operação Copa 2022 destaca a resiliência das instituições democráticas, onde a atuação da Polícia Federal, do Supremo Tribunal Federal e da imprensa foi fundamental para expor e combater a conspiração.
Os fatos ocorridos em 1981 ou em 2022, nos mostram que a democracia enfrenta desafios. Ambos os episódios nos lembram que os direitos conquistados precisam ser defendidos diariamente e cabe à sociedade garantir que as respostas a esses desafios fortaleçam o Estado Democrático de Direito.